quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ele fotografou o velório do pai

Jornalistas se atrevem a trabalhar com o ser humano em uma versão tão real que chega a incomodar. Essa é uma questão que me angustia, a tal ponto de eu me perguntar: “caramba, quem somos nós para julgar o que as pessoas devem ou não saber, para contar uma história que invada o mundo particular de alguém?”.

Foram questionamentos que voltaram à tona quando Ricardo Chaves contou a história do arrombamento feito em sua casa. Não me contive e, ao final da palestra, quase me desculpando pelo atrevimento, perguntei: “o senhor fotografou a cena?”. Estava esperando uma resposta negativa, cogitando a hipótese de que, quando dói em nós, é melhor não registrar.

Mas ele me surpreendeu afirmando que, sim, fotografou tudo. E tem as fotografias guardadas. Pra quê? Aí não soube responder. Apenas admitiu que olha às vezes. Com raiva, mas olha. Chaves também me contou que não resistiu à oportunidade de fotografar seu pai, sendo velado junto a uma bandeira do PDT e outra do Grêmio.

Fiquei desconfiada. Fotógrafos correm o risco de enlouquecer? Não era o caso do palestrante que, talvez em sua tentativa de comprovar lucidez, me explicou sobre vivência do luto com breves conceitos da psicanálise. Mas o seu comprometimento com a fotografia se tornou evidente quando alguém perguntou: “como consegue conciliar vida familiar e profissional?” “Não consegue”, simplificou, sem perder o bom humor.




* Crédito da foto: Lucas Dalfrancis

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